“Está muito difícil o silêncio na minha casa”, afirma Mirtes

“Está muito difícil o silêncio na minha casa”, afirma Mirtes
Há exatos dois meses, completados neste domingo (2), o sofrimento de um mãe comovia Pernambuco. O fato, que depois emocionou o Brasil e, finalmente, chegou ao conhecimento da imprensa internacional foi o falecimento do garoto Miguel, 5, que, no dia 2 de junho, não resistiu ao cair de uma altura de 35 metros do 9º andar do edifício Pier Maurício de Nassau, bairro de São José, após ser deixado sozinho no elevador pela patroa da sua mãe, a primeira-dama do município de Tamandaré, Sarí Corte Real. Sessenta dias depois do ocorrido, a mãe de Miguel, Mirtes Renata de Souza, conversou com o Diario sobre como está sua rotina, as homenagens recebidas que mais a emocionaram e o que espera da Justiça depois que o Ministério Público de Pernambuco denunciou Sarí por abandono de incapaz com resultado de morte.
 
* Como você está se sentindo hoje, dois meses depois de tudo o que aconteceu?
Estou bem, na medida do possível. Hoje (domingo) pela manhã fui treinar com o pessoal do grupo de corrida Os Coiotes, do qual participo. Estou recomeçando aos poucos, caminhando antes de correr. Eles fizeram uma homenagem a Miguel e a mim lembrando estes dois meses com cartazes, rezas. Foi simples e bem emocionante. Agora, estamos esperando o juiz marcar as audiências após Sarí apresentar sua defesa, mas não sei quando e se ela recebeu a notificação.
*Como está sua rotina? 
Voltei a caminhar. Fora isso, fico em casa, assisto filme, ligo para os meus advogados para tirar dúvidas.. vou levando. Tenho procurado, entretanto, sair para resolver uma coisa ou outra, sempre  buscando fazer algo porque ficar em casa é pesado. Está muito difícil o silêncio na minha casa. Miguel era a alegria daqui, a luz e agora estamos só eu e minha mãe. Eu pretendo trabalhar, até já recebi propostas. Agora, entretanto, não posso me comprometer porque estou precisando resolver coisas com os advogados, em breve ir às audiências. Então, não posso segurar nenhuma oportunidade de emprego.
*E a sua situação financeira. De que forma se encontra, então?
Estou recebendo doações. Não sou mais funcionária dos meus antigos patrões, mas eles ainda não pagaram nossas contas (minha e de minha mãe). O advogado está tentando resolver esta questão o mais rápido possível porque não quero ficar mais tempo dependendo das pessoas. Quero receber o que tenho direito. Aceito os auxílios que chegam até a minha casa, mas continuo não autorizando vaquinhas, depósitos nem nada semelhante.
*Quando você sai às ruas, como as pessoas têm te abordado?
Elas me trazem palavras de conforto, dizem que estão junto conosco, rezando, e me dão muita força. Esta semana encontrei uma mulher que chorou dizendo que sente minha dor como se fosse a dela. Muita gente se apegou a Miguel como se fosse um filho, um parente  e também querem justiça, que o caso não fique impune.
* Houve várias homenagens a Miguel e gestos de solidariedade a você. Qual deles mais te emocionou?
Todos me tocaram muito. Me emocionei muito com as grafitagens, caricaturas. Dentre elas, uma que representou Miguel como um anjo; o canto de uma moça, Daniele Rebelo, no Facebook (toda vez que assisto, choro), e a do Ilê Vivo, da Bahia, que fez uma música muito forte e extremamente verdadeira sobre o meu filho. Algumas pessoas de fora do país também me chamam para conversar, então exponho o caso e agradeço a todos que pedem justiça junto comigo, para que Miguel não seja mais um na estatística.
*Quais as suas expectativas para os próximos passos na sua luta por justiça?
Que a marcação das audiências não se prolongue muito e que Sarí seja condenada, presa, que pague pelo erro dela e que isto sirva de lição pra muitas pessoas.
*O que achou da Lei, aprovada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) que proíbe crianças de 12 anos de andarem sozinhas no elevador, em todo o estado?
Já era lei municipal. Agora pode virar estadual, abrangendo crianças, idosos e deficientes. Achei bom porque aumentou a expansão territorial do alcance e a idade, mas é preciso que haja fiscalização. Deve haver informações nos elevadores e conscientização das pessoas com ações educativas, por exemplo, para que não aconteça com outras crianças o que aconteceu com meu filho.
Diário de Pernambuco
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