Pico de contágio do novo coronavírus ocorre nos cinco dias após início de sintomas, diz estudo

Pico de contágio do novo coronavírus ocorre nos cinco dias após início de sintomas, diz estudo

Pessoas infectadas pelo novo coronavírus Sars-CoV-2 que desenvolvem a Covid-19 transmitem mais o vírus nos primeiros cinco dias após o início dos sintomas. Depois de nove dias de doença, nenhum vírus ativo – que pode iniciar uma infecção – foi encontrado em amostras, embora o material genético do patógeno possa ser detectado nessas pessoas semanas e até meses após o começo da infecção.

Os resultados são de um artigo publicado nesta quinta-feira (19) na revista científica The Lancet Microbe por pesquisadores de instituições do Reino Unido. Os cientistas revisaram dados de 98 estudos publicados entre 2003 e junho de 2020 com informações sobre a dinâmica da carga viral em pacientes de três coronavírus: o Sars-CoV-2 (79 artigos), causador da Covid-19, o Sars-Cov (8), que causa a Sars (síndrome respiratória aguda), e o Mers-Cov (11), que causa a Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio).

Segundo os pesquisadores, os dados desses estudos indicam que os pacientes de Covid-19 têm a maior quantidade de vírus no nariz e na garganta (áreas consideradas pelos cientistas como as principais fontes de transmissão) logo quando os sintomas aparecem, e a situação permanece assim por cerca de cinco dias. No caso dos outros coronavírus pesquisados, o pico da quantidade de vírus nessa região do corpo aparece geralmente na segunda semana da doença.

Essa seria, portanto, uma das causas para o novo coronavírus circular entre as pessoas com maior facilidade do que os coronavírus anteriores, uma vez que o paciente com Covid-19 precisa fazer o isolamento de uma maneira muito mais rápida para evitar a transmissão da doença, afirmam os autores.

Muge Cevik, pesquisador da Universidade de St. Andrews (Escócia) e autor principal do artigo, disse em comunicado à imprensa que os resultados sugerem ainda que a repetição do teste PCR (que detecta o material genético do vírus) talvez não seja necessária para liberar o paciente do isolamento. O teste pode permanecer positivo por um período mais longo, e como detecta partes inativas do vírus, não indica necessariamente que o paciente esteja contagioso.

“Em pacientes sem sintomas severos, o período infeccioso pode ser de dez dias após o início das manifestações”, afirmou Cevik. As orientações sobre a duração do isolamento variam de 10 a 15 dias, dependendo da instituição. Pacientes que ficam em estado mais grave são mantidos em confinamento por período mais longo geralmente.

“Entender a transmissão da doença nos dá as dicas de como realizar melhor as medidas de prevenção”, afirma a infectologista Maura Salaroli de Oliveira, do Hospital Sírio-Libanês. “Esses resultados mostram que as pessoas não devem banalizar os sinais da Covid-19, que é o que temos visto.”

“Tão logo sintomas como dor, febre, perda de olfato ou paladar se iniciem, deve-se começar a fazer o isolamento domiciliar, sem frequentar lugares públicos, até que o teste possa ser feito. Não é adequado esperar o resultado do teste para só então tomar a medida”, diz Oliveira.

Segundo a médica, as pessoas devem estar atentas também ao surgimento de manifestações atípicas da Covid, como náusea e diarreia.

No artigo, os pesquisadores afirmam que não há dados suficientes para determinar o período potencial de transmissão dos chamados pacientes assintomáticos, um contingente grande de pessoas que foram infectadas pelo Sars-Cov-2, mas não desenvolveram nenhum dos sintomas da Covid-19.

Dessa forma, cuidados como distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos são essenciais para evitar o contágio, de acordo com a infectologista. “Percebo pessoas na rua que fazem distanciamento e usam máscara, mas ao encontrarem um conhecido abraçam e beijam, quando na verdade qualquer pessoa, mesmo nossos amigos, pode estar infectada”, afirma Oliveira. “Todos estamos cansados dessas medidas, mas por enquanto deve ser assim”, diz. (Folhapress)

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