Coronavírus: em meio à polêmica sobre fechamento do comércio, pessoas começam, aos poucos, a ocupar ruas da capital pernambucana
Em Pernambuco, o isolamento social têm sido a principal medida de enfrentamento ao novo coronavírus. Na manhã deste sábado (28), a reportagem do Jornal do Commercio foi até as ruas de algumas cidades da Região Metropolitana do Recife para verificar se as pessoas têm obedecido aos decretos e orientações do governo do Estado, permanecendo em casa.
Na última terça-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento, em rede nacional, criticando os governadores estaduais alegando que as pessoas “precisam voltar à normalidade” e que é necessário reabrir o comércio e as escolas. Bolsonaro também defendeu o isolamento apenas de pessoas do grupo de risco.
A reação dos chefes do Executivo Estadual foi imediata, na quarta-feira (24), os governadores do Nordeste estiveram reunidos por videoconferência, e afirmaram que todas as medidas restritivas adotadas para combater o coronavírus seriam mantidas -nesta sexa-feira (27) houve uma nova reunião e os governadores afirmaram que o presidente “promove um atentado a vida”. E a opinião da população já se mostra dividida.
No Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, as pessoas aproveitaram o sábado para praticar exercícios físicos ao ar livre. De acordo com o decreto estadual, ir à parques e praças não está proibido, mas há uma condição, respeitar a distância mínima de 1,5 m entre as demais pessoas, o que não aconteceu. Apesar de o número de visitantes ter sido bem menor que o de costume, as pessoas passeavam e praticavam exercícios em grupos e sem respeitar a distância mínima estabelecida.
Segundo a analista de suportes, Lorena Xavier, de 25 anos, a diferença de público no parque foi sentida.”Em comparação a outras vezes que a gente vinha, em período normal, tá bem diferente, acho que tem bem menos pessoas”, a analista de suportes garantiu ainda estar tomando todos os cuidados de prevenção ao vírus mesmo quando sai de casa, “tenho álcool em gel no carro, chego em casa e já lavo as mãos, fazemos tudo direitinho”, disse.
A aposentada Mariângela Teobaldo, de 63 anos, têm sido rigorosa com a prática de exercícios. O que antes era feito em grupo, agora ela sai para caminhar sozinha. “Também mudei o tempo que passo aqui, fico apenas meia hora e vou para casa. Fazer exercícios é o meu refúgio nesse momento difícil. Nós temos agora dois caminhos, acreditar em Deus e na Ciência, temos que ficar em casa”, afirma.
No Mercado da Encruzilhada, também na Zona Norte, além do movimento estar pequeno, as pessoas mantiveram-se bem direcionadas, efetuando suas compras e logo indo embora, sem passear pelo local. O representante comercial, João Lucas Vasconcelos, de 35 anos, informou que na sua casa, ele é o único que sai vez ou outra do isolamento, mas apenas para realizar os serviços essenciais. Apesar de ser contrário ao isolamento social por conta da economia, João Lucas garante “enquanto o governo falar, a gente obedece”.
“Acho que realmente a gente deveria isolar somente as pessoas de risco, enquanto outras pudessem sair para consumir e produzir, porque aí a economia não ficaria tão desgastada do jeito que vai ficar”, disse João Lucas.
Em Paulista, no bairro de Maranguape I, era possível ver alguns pontos com fluxo mais intenso de pessoas nas ruas. Em algumas lojas de material de construção, havia impresso o decreto nº 48.857, do governo do Estado, explicando que era permitido o funcionamento. No entanto, o atendimento dos clientes estava sendo feito na porta das lojas.
Um ponto maior de movimento foi na fila da lotérica. O presidente Jair Bolsonaro editou um decreto autorizando o funcionamento das casas lotéricas, que passou a ser considerada atividade essencial, assim como a celebração de atividades religiosas. Nesta sexta-feira (27), a Justiça Federal suspendeu os dois decretos.
“Infelizmente temos que sair de casa porque temos conta para pagar, fica difícil pra gente também. Mas, sei que é importante ficar em casa e só sair quando for necessário. Ainda tem cara que fica brincando com essa doença”, afirma Rinaldo Sacramento, 54 anos.
Procurado pela reportagem o Governo do Estado afirma que “as prefeituras têm estruturas próprias de fiscalização urbana” e que a Polícia Militar pode ser acionada caso haja registro de aglomeração e outros descumprimentos dos decretos estaduais. (JC)