Petrolina sob as estações políticas e sociais dum tempo incerto – Por Marcelo Damasceno *
A renda per capita entre 5 por cento da população em Petrolina (estimada hoje 345 mil habitantes) chega a formidáveis 5.300 dólares. Um fosso infindo diante dos reparáveis 280 dólares divididos em renda per capita dos demais 95 por cento de mortais nessa cidade a 700 quilómetros do Recife, capital pernambucana. Uma dura realidade para quase 40 mil desempregados entre 18 a 48 anos da faixa etária populacional. Os abalos sísmicos de uma economia estagnada na conjuntura nacional.
Petrolina tem hoje seu vento econômico indexado ao câmbio dolarizado por conta do AGRONEGÓCIO que move empregos e irriga potencialmente o sistema financeiro da cidade. Petrolina avançou em sua potencialidade urbana e prosperidade sócio-politica sob o olhar estratégico regional a partir do ciclo exportador e beneficiamento de matéria-prima formatada do couro, algodão, mamona e sisal. Dessa fórmula comercial nascia seu parque industrial cujo efeito colateral mortífero foi sem dúvida a anexação monetária de importações extorsivas do trigo e congêneres. Além da concorrência desleal de produtos barateados e de menor qualificação, por exemplo, que o algodão.
Os produtos alimentícios hoje em Petrolina, encontrados em gôndolas de supermercados grandes e pequenos chegam a espantosos 85 por cento de importação. A produção agrícola, irrigada e da subsistência, sofre também essa decantação lenta e previsível da tributação injusta ante à vizinha Bahia que lhe raptou o entreposto comercial de frutas e verduras. Quem está aí a olhos vistos confirmando essa realidade é o mercado do produtor em Juazeiro baiano. A um quilômetro de distância. Petrolina sofre esse desalinho e sobrevive dos recursos distribuídos por órgãos federais como, Caixa Econômica Federal com os cartões do bolsa-família e INSS com benefícios rurais e urbanos.
Através do núcleo político liderado pela família Coelho, a distribuição de receitas que desde os governos, tucano e petista, lhes propôs saneamento, rede escolar e médica, destacando-se a Universidade Federal do São Francisco, ratificando sua liderança na RIDE, uma sigla que junta ao seu redor cerca de 56 municípios de menor índice do desenvolvimento humano. Petrolina irradia essas demandas flagrantes de filas intermináveis à procura de emprego e saúde, benefícios sociais e oportunidade de tudo. A mobilidade urbana, comutada em mudanças recentes, propõe nova agenda empreendedora que sinaliza para o rentável transporte público, fragilizado e deficiente na frota em uso. A perturbada ordem cultural rendeu-se ao entretenimento modista e sob a ditadura dos escritórios alaranjados que dirigem a indústria “dancing-day”. As manifestações populares desde a bandeira do rosário ao futebol competitivo regional, sucumbiram aos coveiros ignorantes da própria história e vigas antropológicas dum povo cuja miscigenação tem matriz indígena e lusitana, colorida depois pela raça negra. Petrolina com sua religiosidade católica em disputa tolerante e ecuménica com fatias expressivas entre protestantes nórdicos e pentecostais. Caminhando sob a encruzilhada de mobilizações diocesanas e sociais orgânicas a lhes fazer também resistente aos embaraços tutoriais de heresias politicas. Petrolina entre o golpe e democracia, em revezamento pasteurizado das tensões aquarteladas e tribunais tutelados pelos “mercados”.
*Marcelo Damasceno é professor, radialista e jornalista em Petrolina-PE